quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Terça-feira 12 é a nova Sexta-feira 13 (Mimimi #01)

Tem coisas que você supera com o tempo porque deixam de fazer sentido na sua vida. Papai Noel depois dos 7, virgindade depois dos 15, descobrir sua identidade depois dos 18 e Dia das Crianças depois dos 25. O interessante é que da mesma forma que Emocore é o novo new-metal e Ke$ha tenta ser a nova Lady Gaga, o dia das crianças virou a nova sexta-feira 13. Não basta superá-lo, tinha que traumatizar.

Pois eis que estou andando no Centro da cidade, depois de longas horas de bate-papo com caminhada em lugares onde o IPTU é alto por um motivo justo, e deixo a última pessoa de nossa trupe dentro do ônibus antes de me adiantar pro Metro, quando sou gentilmente abordado por um grupo de seis-sete adolescentes que moram em alguma calçada das imediações e tenho minha mochila roubada.

Eu sei que o sol já havia sabiamente se recolhido, e eu insistindo em ser feliz no caminho de volta pra casa, mas na hora que tudo aconteceu nem me bateu nada demais. Não senti medo, taquicardia, vontade de socar ou quebrar as pernas de alguém, de que o Brasil tivesse pena de morte nem nada do gênero. Nem tive as minhas reações mentais naturais como "tomara que morra de overdose, que sofra um acidente, que tenha uma perda dolorosa e irreparável" que são conhecidas pelas pessoas que convivem comigo e não lêem esse blog. Só corri pra ver se conseguia pegar meu caderno e minhas chaves de volta, pois todo o conto da Sofia e meus exercícios de escrita criativa estavam nele.

Falei com a polícia, peguei o RO, bloqueei o celular, liguei pra algumas pessoas pra avisar o que ocorrera e voltei pra casa numa boa, sabendo que ainda estava anestesiado e esperando pro dia de hoje a raiva retroativa. Como me conheço um pouco, acertei na mosca e a raiva retroativa veio. Nem tanto como raiva per se, mas mais como tristeza. Embalado por isso decidi escrever um draminha pra expurgar o estado, e o chororo que segue abaixo foi o resultado disso:

"Ontem eu perdi minha mochila. Não apenas a mochila, mas tudo que ela continha. Um livro interessante que não acabei de ler, um presente que não cheguei a experimentar, uma identificação do trabalho, uma memória de celular com pessoas importantes... Perdi um caderno cheio da minha imaginação e um estojo cheio das minhas lembranças. Da lapiseira do meu primeiro vestibular, do jogo de canetas nanquim roubadas da minha irmã, de lapiseiras que foram dadas por pessoas queridas que nem sempre encontro mais.

Menos me importa o aparelho, a mochila ou o dinheiro, mas me importa a chave que diz que eu pertenço a essa casa, a tentativa de dialogar sem êxito, e a tristeza de ter algo meu estranhamente violado. Pois quando se rouba algo nem sempre há a dimensão daquilo que o outro perde. Se ao menos eles fossem aprender francês ou italiano, se eles apreciassem a discussão de música e neurociência, ou se entreter com a vida de meus personagens, algo de bom sairia dali para além do sabor do álcool, doces ou drogas que o dinheiro daquela mochila podia comprar.

Talvez se eles dessem valor para as coisas que eu dou valor naquela bolsa, eu ficasse mais conformado. O que me irrita é o fato deles terem tirado algo que fundamentalmente não lhes serve, já que eu teria dado os objetos que eles queriam com tranquilidade. No fim das contas o que lhes é caro são apenas coisas, e o que me foi tirado são sentimentos.”

Quem sou eu

Minha foto
Eu sou cheio de desejos, que me levam pra várias direções; e como um Menino Maluquinho gostaria de poder abraçar o mundo com as pernas na tentativa de saciá-los. Extremamente vaidoso, principalmente com meu intelecto e minha capacidade de aprender coisas novas. Urbano demais, filho do barulho e do ar da cidade, do excesso de informação e das cores da pólis. Articulado com as palavras em vários momentos, mas receoso do quanto elas me expõem muitas vezes. Susceptível a elogios e a beleza, em várias expressões. Apaixonado pelas artes, tanto que gostaria de ser muito hábil em alguma delas para agir como uma segunda voz. Uma colcha de retalhos de idéias, conceitos, memórias, projeções e outras abstrações, sonhador, curioso... bem curioso, eu diria. Oscilo entre pessoas e lugares com certa facilidade. À medida que amadureço vou adotando algumas certezas e algumas regularidades que me eram sufocantes. Adoro cantar. Sou do tipo que sente mais saudade quando reencontra do que quando está longe. Amo água. Detesto a maioria dos esportes. Sou bicho de bando e viajaria sempre se possível. Dentre tantos que abrigo, isso é parte de mim.